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sexta-feira, 21 de junho de 2019


domingo, 17 de agosto de 2014

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PÓS GRADUAÇÃO A DISTÂNCIA


sábado, 24 de dezembro de 2011

COMO CUIDAR DA VOZ



< b>10 dicas para ter uma voz saudável

Muitas pessoas vão à academia e passam horas cuidando de sua aparência e de seu corpo. Mas quem se preocupa com a voz?
Você provavelmente não. Mas deveria. “A sua voz é o seu embaixador para o mundo exterior”, afirma o pesquisador Norman Hogikyan. “Ela retrata sua personalidade e emoções. As pessoas fazem avaliações sobre você com base em sua voz. Problemas com a voz também podem ter um tremendo impacto sobre sua vida”, diz. Confira 10 dicas para ajudar a manter a sua voz em forma:
1 – Mantenha-se hidratado
Beba água para manter seu corpo bem hidratado e evite álcool e cafeína. Suas cordas vocais vibram muito rápido, e ter um balanço hídrico adequado ajuda a mantê-las lubrificadas.
Nota importante: os alimentos que contêm grandes quantidades de água são excelentes, como maçãs, peras, melancia, pêssego, melão, uvas, ameixas, pimentões.
2 – Descanse a voz
Faça vários “cochilos vocais” todos os dias, especialmente durante períodos de uso prolongado. Por exemplo, os professores devem evitar falar durante os intervalos entre as aulas e encontrar maneiras tranquilas de passar a hora do almoço ao invés de falar em uma sala barulhenta com os colegas.
3 – Não fume
Não fume, ou se você já fuma, largue o cigarro. Fumar aumenta o risco de câncer de garganta, e a inalação de fumaça (mesmo passiva) pode irritar as cordas vocais.
4 – Não abuse
Não abuse ou use indevidamente a sua voz. Evite gritar, e tente não ficar falando alto em áreas ruidosas. Se a sua garganta ficar seca ou cansada, ou a sua voz começar a ficar rouca, reduza o uso. A rouquidão é um sinal de que suas cordas vocais estão irritadas.
5 – Relaxe a garganta
Mantenha a sua garganta e músculos do pescoço relaxados mesmo quando você está cantando notas altas ou baixas. Alguns cantores inclinam suas cabeças pra cima ao cantar notas altas e para baixo ao cantar notas baixas. Se não fizer isso, os músculos vocais podem ficar tensos e seu alcance vocal pode diminuir.
6 – Modo de falar
Preste atenção em como você fala todos os dias. Mesmo artistas que têm bons hábitos de canto podem causar danos à voz enquanto falam. Muitos cantores qualificados não continuam seus hábitos saudáveis quando falam. O certo é ter bastante fluxo de ar quando falamos.
7 – Não pigarreie
Não limpe a garganta com muita frequência. Quando você pigarreia, é como se batesse suas cordas vocais em conjunto. Fazer isso em excesso pode prejudicá-las e torná-lo rouco. Experimente um gole de água ou engolir a seco para saciar o desejo de limpar a garganta. Se você sente que tem que pigarrear muito, vá a um médico.
8 – Evite falar quando estiver doente
Se você está doente, poupe a sua voz. Não fale quando você está rouco devido a um resfriado ou uma infecção.
9 – Não sobrecarregue a voz
Quando você tiver que falar publicamente, para grandes grupos ou ao ar livre, pense sobre o uso de amplificação para evitar esticar a sua voz.
10 – Tempo molhado
Umidifique sua casa e áreas de trabalho. Lembre-se: umidade é bom para a voz



quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

OBRIGADA EU OU EU QUE AGRADEÇO

QUAL A FORMA CORRETA: "OBRIGADO EU" OU "EU QUE AGRADEÇO"?

Qual a forma correta: "Obrigado Eu" ou "Eu Que Agradeço"
Você já notou que o “acerto” quase nunca é propalado com a mesma velocidade que o “erro”? Por que digo isso? Simples! Há poucos meses, sabe-se lá de quem foi a autoria, a frase “OBRIGADO EU” disparou na preferência popular, desbancando até mesmos os já clássicos “Nóis vai” e a “Gente fomos”.

Errar é humano, todavia, cometer o mesmo erro é perigoso, até porque, atrás de cada palavra há um indivíduo detentor de competências, ainda que às vezes, devido à qualidade do ensino público, essas mesmas competências estejam alicerçadas por frágeis conhecimentos. Assim, para os mais escolarizados, erros dessa natureza causam graça, piadinha de mau gosto, expondo os mais desprotegidos culturalmente ao constrangimento, ainda que velado, o que é pior.

Toda forma de discriminação lingüística é abominável, ainda, não se pode julgar a índole de um cidadão só porque ele cometeu uma gafe; mas não é o que acontece. Já tive notícias de que certas empresas de seleção testam justamente o candidato na hora do agradecimento, assim, ao pronunciar o tal “Obrigado EU”, toda sua prova pode ser desconsiderada e o emprego repassado ao candidato seguinte. Isso é crime? Se considerarmos a discriminação vernacular, sim; mas a dificuldade está em se provar essa discriminação, até porque, ela acontece, como já disse, na surdina, dentro de uma sala, trancada a sete chaves.

E aos críticos mais serenos, uma informação extra-oficial: o suposto erro também é cometido por profissionais de carreira, cujo salário os coloca no topo da pirâmide social, diferentemente do que afirma uma pequena parcela de gramáticos adeptos à filosofia do quanto mais pobre, pior.

Quer uma prova? Então vamos lá! Dias desses, em um grande banco estrangeiro de origem espanhola, a gerente, com o sorriso clareado à mostra, apertou minha mão e disse, pasmem, repetidamente: “Obrigado EU!”. Naquele momento, desculpem-me a franqueza, levantei, dei dois passos em direção à escadaria, retornando em seguida. Vendo-me de novo, a gerente perguntou: “Esqueceu algo, senhor Carlos?” Ainda que intimidado, aleguei que sim! Então, revirando os papéis de sua mesa antes mesmo que eu anunciasse o tal “objeto” motivador de meu retorno, perguntou-me: “O que seria? Por acaso o celular, o Rg, o CPF...?”

Com o sorriso tímido estampado à face, pedi para que ela se sentasse, foi quando, após inspirar profundamente, revelei o motivo de meu retorno: “Querida... desculpe-me a sinceridade, mas eu não esqueci nenhum objeto em sua mesa; pelo contrário, esqueci apenas de informá-la de que a expressão “OBRIGADO EU!” é incorreta, porque sendo o EU um pronome pessoal do caso reto, ele não deve aparecer em final de frases, mas apenas no início, em que desempenha o papel para o qual foi criado: praticar uma ação e não recebê-la, como aconteceu no modelo em epígrafe. O mais provável, ainda que estranho à sintaxe portuguesa, seria se utilizar da expressão “Obrigado MIM”, porque este pronome é quem recebe uma ação desencadeada pelo sujeito. Veja um exemplo clássico: “Este lápis é para mim?”

Visivelmente desnorteada, a moça pegou um lenço de papel e passou-o no rosto, limpando o suor, que lhe caía em abundância.. Ao invés dela pedir que eu procurasse minha “turma” – por que saber se é o Eu quem pratica uma ação e não O Mim?, solicitou que eu continuasse.

A expressão considerada mais adequada à situação seria: “EU QUE AGRADEÇO!”, ou simplesmente, remetendo-se às normas gramaticais alcaides, o popular “DE NADA!”

Levantei-me e, antes que ela pudesse dizer algo, fui-me embora; apesar de instruir uma pessoa - papel que me é delegado pelo meu cargo, senti-me constrangido, afinal, o que ela poderia ter pensado de mim? Talvez um excêntrico ou mesmo um tremendo idiota. Já em casa, algumas horas depois, abri o e-mail e, para minha surpresa, havia a seguinte notinha:

“Prezado senhor Carlos Mota, se o senhor não tivesse a coragem de me corrigir, quantos outros “Obrigados EU” eu poderia ter dito, por plena inocência? De certa forma, esse erro poderia pôr em risco o meu próprio cargo no banco, afinal, relaciono-me com clientes de toda natureza e falar errado torna-se um “motim”, em caso de uma suposta concorrência profissional interna. Como retribuição ao seu gesto, faço questão de dizer tantas vezes quanto forem necessárias: “EU QUE AGRADEÇO A SUA SINCERIDADE!”

Bem, amigos, como perceberam, é vivendo que se aprende. ( Carlos Rogério Lima da Mota. Prof. de Língua Portuguesa)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

COMO PERCEBES A REALIDADE?NESSA IMAGEM VOCÊ VÊ A VELHA, A MOÇA? OU AS DUAS?


TEXTO PRODUZIDO A PARTIR DA ANÁLISE DA IMAGEM A VELHA OU A MOÇA(Profª Milts)

COMO PERCEBO A REALIDAde?

Pode-se perceber a realidade, observando, analisando, refletindo. A ação de refletir muito antes de se tirar uma conclusão é fundamental para evitar erro de interpretação, pois nem sempre a realidade é o que se consegue visualizar no primeiro momento. Em algumas vezes ela pode ser mais simples ou mais complicada depende muito da maneira que se olha para as coisas, isso é quando se permite olhar.

John Locke (1632-1704), filósofo do século XVII, acreditava também na existência de duas realidades: uma delas conferida pela percepção dos objetos e denominada experiência exterior e uma outra, determinada pela percepção dos sentimentos e desejos, a que chamou de experiência interior. A doutrina de Locke foi muito bem desenvolvida por Berkeley (1685-1753) e por David Hume (1711-1776), os quais concluíram que nenhum conhecimento absoluto é possível, e aquilo que sabemos da realidade é baseado na experiência subjetiva (experiência interior), a qual não reflete necessariamente o quadro verdadeiro do mundo. Wilian James (1842-1910), no século passado, enfatizou a natureza altamente pessoal dos processos de pensamento e o caráter sempre mutável das percepções do mundo, alteradas que são pelo estado subjetivo da pessoa que percebe.


É preciso atentar-se porque nem sempre uma coisa ou fato é o mesmo para todos, tudo depende da visão e experiência de cada um, dos recursos linguísticos de cada pessoa. Portanto para não se entrar em conflito devemos trabalhar o nosso olhar para que fique mais sensível, sendo assim, pode -se valorizar as próprias ideias e opiniões, sem anular a dos outros que também são válidas.

Isso tudo nos leva a crer que as coisas, embora tenham todas um mesmo significado (objetivo), terão significações pessoais muito diferentes entre as diferentes pessoas. Uma barra de ouro, por exemplo, terá um valor universalmente reconhecido (objetivo) chamado, neste caso, de cotação do ouro. Entretanto, e não obstante, terá também um valor muito pessoal à cada pessoa que venha a possuí-la, dependendo da necessidade de cada um, do apego material ou não ao ouro, da vocação ou não em juntar posses, etc. Terá ainda um valor até em não possuí-la, ou seja, um valor independente da existência ou não do objeto (se eu tivesse uma barra de ouro...). Enfim, vivemos de acordo com nossa realidade pessoal, de acordo com nossa maneira de ver o mundo.


Portanto, já que a concepção da realidade é baseada na experiência subjetiva e, sendo esta capaz de conferir uma natureza altamente pessoal à percepção do mundo e aos pensamentos, então a realidade percebida decorrerá sempre do estado subjetivo do indivíduo. Cada consciência, em particular, integra e totaliza de maneira muito peculiar o seu relacionamento com o mundo. Desta forma, os fatos oferecidos pelo mundo à nossa volta resultarão numa representação única e individual para cada um de nós, e será esta representação que constituirá a realidade particular de cada indivíduo.


Ballone GJ - A Realidade do Outro

A VELHA E A MOÇA



O que você vê ao observar a figura? Observe por vários ângulos, de cima a baixo, variando e deslocando o centro de sua atenção em relação ao desenho. O que, de imediato, chamou sua atenção na figura?

Interessante como a mente se condiciona à observação e à catalogação imediatas, porque alguns ou algumas de vocês podem ter observado, a partir da fita amarrada no pescoço, uma bela moça, envolta por um casaco de pele, ostentando uma espécie de chapéu. Acertei?

Mas, surpresa! A mente-catalogadora pode nos pregar peças, pois, se você observar o desenho “mudando” a maneira com que definiu seu roteiro de percepção (ou, melhor, seu paradigma), passando a “ver” o risquinho do colar como sendo uma “boca”, perceberá que a bela moça transformou-se, num passe de mágica, numa bela senhora!

sábado, 12 de novembro de 2011

LINGUAGEM SEXUAL




O sexo consome a humanidade há milênios e está longe de ser satisfatório o grau de conhecimento que temos. Ele tem uma relação sinuosa mais estreita com a linguagem. Há muitos meios pelos quais o verbo se faz carne. Há uma linguagem no sexo (etimologia sexual), uma dimensão das palavras dadas aos órgãos e atos sexuais ao longo dos séculos. Existe uma linguagem com sexo (estilístico sexual), uma forma de exprimir que promete levar à excitação, em que as fronteiras entre o erotismo e o pornográfico se tornam difíceis de distinguir.







Há ainda a linguagem dos sexos (linguística sexual), a possibilidade de homens e mulheres expressarem formas distintas do mesmo idioma. E há igualmente uma linguagem para o sexolinguagem sobre o sexo, a forma como a expressão humana ganha autonomia a ponto de virar um sistema que afeta a vida humana em todas as manifestações e, por conseqüência, contamina a própria maneira como encaramos a sexualidade. Uma semiótica do sexo. (retórica sexual), para a realização sexual, para tornar uma linguagem mais efetiva e intensa antes, durante e após a expressão de um ato amoroso. Além disso, há um impacto inverso, o da






Na questão etimológica, expressões como “ficar por baixo” ou “ficar de quatro”, reproduzem toda uma tradição cultural masculinizada. O movimento para o alto é uma determinação cosmológica atribuídas ao homem porque se vincula à ereção. À altura maior do homem, à posição “cobertor” que ele ocupa no ato sexual convencional. Basta lembrar que o símbolo feminino (♀) é formado por um círculo com uma cruz para baixo e o masculino (♂), com uma seta voltada para cima.






A representação é a de um pênis ereto. E essa representação ecoa na linguagem. A sociedade ocidental associou essa posição “superior” no momento da relação sexual como masculina, e a estendeu a tudo que é elevado, vertical, hierarquicamente melhor. A mulher é relacionada à queda (a que Eva teria imposto a Adão), ao ato de curvar-se ou estar embaixo, na horizontal. Assim, há mais conteúdo simbólico em expressões como “ficar por baixo” ou “levantar a cabeça”. A presença da sexualidade na linguagem, e vice-versa, pulsa.






Linguagem no sexo (etimologia sexual)






Em diferentes dicionários o homem ainda é o centro da linguagem. O pênis é os mais adulados no rol de palavras do brasileiro médio. Pelo menos, no léxico dicionarizado. São 369 sinônimos, ante 299 designados para vagina e 90 para nádegas. A linguagem revela as opções de uma cultura. É uma via sinuosa. A quantidade de sinônimos para ânus, pênis e vagina pode tanto significar que uma entidade é valorizada por uma comunidade quanto o medo que esses termos provocam a uma sociedade reprimida. O ato sexual no Brasil é um dos mais fartos na escala libertina de sinônimos. São 232 sinônimos para “foder”, sem contar os 72 termos chulos que equivalem à palavra “foda”.






A um sentimento de força, poder e de violência, essencialmente masculino, corresponde uma afirmação de fraqueza e impotência feminina, com imagens desvalorizadoras referentes às suas partes pudendas, tais como engenhoca, fenda, greta, quitanda, ruptura (órgão genital) e bolacha, bombordo, disco, esfera, gelatina, melancia, orifício, rosca, quiosque (para as partes anais). O falo toma forma como uma arma, um instrumento de força e violência potencial (cacete, ferro, lança, pistola, trabuco, vara), de resistência, rigidez (eixo, ferro, jacarandá e maniçoba, pau, peroba). De agilidade, astúcia (bagre, gato, músculo) e de dimensão (banana, bisnaga, cano, espiga, nabo, varão).






Já os termos mais comumente usados para falar da vagina conjuram um sentido de inferioridade e imperfeição. E assim as formas vulgares se incorporam à fala culta ou vice-versa. A vida das palavras torna-se um reflexo da vida social e, em nome de uma ética vigente, proíbem-se ou liberam-se palavras, processam-se julgamentos de bons ou maus termos, apropriados ou inadequados aos mais variados contextos.






sábado, 1 de outubro de 2011

UMA CARTILHA MACHUCADA





UMA CARTILHA MACHUCADA

Antonio Gil Neto

Minha cidade era bem pequena. Em meio ao breve casario que nela se espalhava, entre jardinzinhos e quintais, morava numa casa com varanda e trepadeira. Na ligeireza do olhar já se via a pracinha com suas árvores variadas, a igreja e o coreto. E ao lado dela, imponente, o Grupo Escolar. Fazia alguns meses que me enredavam nos preparativos para me iniciar na vida escolar. Foi naquele março encalorado de sorrateiras chuvaradas quando inaugurei os meus sete anos completinhos na escola. Sempre passava com olhos enviesados por aquele casarão amarelado com sua fileira de janelões olhando para a praça da matriz. Ladeado por dois portões, abria e se fechava como relógio londrino ao som do badalar da sineta, chacoalhada impecavelmente pela Dona Nenê. Era um bando de crianças saindo pelo portão da esquerda e num logo mais, outro bando entrando. Sempre ao meio-dia e no rigor de todos os dias, de segunda a sábado, quentes ou frios, secos ou chuvosos. Uma ladainha imperceptível, necessária. Afinal iria conhecer de perto a intimidade daquele casarão misterioso e convidativo. Seria engolido por um dos seus portões e mataria minha curiosidade, instigada pelo pessoal de casa. Antes, pelo Natal se iniciaram os preparativos. Quando fui sondar os sapatos à janela com presentes deixados pelo Papai Noel, vi que eram poucos, como sempre. Mas, naquele ano, a maioria tinha ar da nova aventura: um estojo de plástico verde escuro e uma bolsa de couro marrom. De quebra, um pião listrado. Lembrei-me logo da viagem que meus pais haviam feito com minha irmã e de quando entraram no trem com malas marrons. Vi a fumaça desaparecer com eles e eu ficar parado com a lembrança deles me apertando o peito. Em fevereiro, após o Carnaval, meu namoro com os apetrechos do Bazar da Dona Chiquinha foi concretizado por minha mãe. Comprou outras coisas para ocupar o lugar da espera: cadernos com linhas e desenhos multicores na capa, régua, uma caixa de lápis de cor variada, lápis preto, borracha para apagar e deixar tudo como no começo. Já estava com arsenal prontinho para a nova peripécia. Assim, num primeiro de março, lá fui eu tragado voluntariamente para a aventura escolar. Lá dentro, no imenso pátio semeado de árvores altas ficamos separados em filas. Os meninos com mais de uma fitinha azul marinho costurada no bolso cantavam com a mão no peito. O ventinho miúdo nos acolhia, espalhava a novidade e balançava os imensos laços de fita, branquíssimos, que as meninas deixavam nas cabeças feito borboletas alegres compradas talvez no bazar da Dona Chiquinha. Veio o seu Oswaldo falar do primeiro dia das aulas, vieram as professoras vestidas para quermesse para pegar suas filas. A minha foi a última a dizer bom dia e a pedir com sorriso para que entrássemos. Passamos por um corredor, logo uma sala com duas senhoras, como as minhas tias, batendo à máquina como quem trabalhava em escritório. Depois outro com salas de portas fechadas. Ainda caminhamos por outra sala ampla e escura com cheiro esquisito de álcool velho. Parecia guardar um mundaréu de coisas empilhadas, penduradas, em caixas, em armários, em mesas com tampa de vidro. Era uma espécie de bazar ainda não explorado. Nossos passinhos em uníssono envergavam um pouco as tábuas do assoalho. Me parecia que alguma coisa nos vidros das estantes ainda tinha alguma vida. Por que abrigar aquele mundaréu de coisas? Passamos ainda outro corredor onde havia no alto um relógio com um barulho bem alto marcando seu tique-taque solene. Muito diferente do que havia na casa dos meus avós. Quem dizia as horas era um passarinho que nele morava. Chegamos na nossa sala. Sentamo-nos dois a dois nas carteiras indicadas pela Dona Susana e fomos expondo orgulhosos e temerosos os nossos pertences para a grande estreia. Ela nos explicava com delicadeza que iríamos aprender a ler, a escrever e a fazer contas. (Como os rabiscos que meu avô fazia num papel quando vendia louças). Disse efusiva e confiante que uma semana mais e receberíamos a cartilha. O que seria isto? Minha mãe foi me explicando que era um livro onde estavam guardadas as letras. E que iria usar para aprender tudo de que precisava. Na verdade eu nem me espantava muito com as letras porque já eram minhas velhas conhecidas. Meu tio havia me apresentado a elas quando ficava com ele no armazém. Ele tinha que escrever coisas nos cadernos grandes da escrivaninha e também nas cadernetinhas que cada freguês trazia para marcar tudo o que havia comprado. Para um dia se lembrar e pagar. Já escrevia meu nome e do pessoal de casa. E sem faltar uma letra! Muito diferente dos outros meninos que ficavam apavorados com a idéia de ter que lidar com elas, estranhas figuras. O que me espantava, me deixava enfarado era toda a classe, num longo silêncio de ouvir barulhinhos bons, ficar copiando e imitando o capricho da lousa as tantas letras, enfileiradas, tantos números, tantas vezes... Logo a cartilha chegou. Foi como uma pequenina festa. O diretor entrou na sala, mostrou uma rapidamente e a nossa professora foi chamando um por um e entregando cada cartilha a seu dono. Logo vi que a minha era igual a de todos: tinha na capa esverdeada uma menina com tranças bem sorridente nos olhando o tempo todo. E lá começaram as lições. A primeira para mim foi fichinha. Soube logo de cara tudo sobre a pata que nadava naquela página. Conseguia ver mais: que estava nadando feliz com seus filhotes, num riozinho manso e com taboa, igualzinho ao da chácara do Seu Afonso onde a gente ia ver na sua leve correnteza os minúsculos peixinhos e seu mundão de sapinhos bebês. E vislumbrei um céu bem azul. Mais um burburinho de água indo para seu destino. E de passarinhos, de cavalos, de vacas. O estampado naquele desenho em preto e branco ia virando vida. Como um cartaz de filme que ainda passaria. Dona Susana ficava naquela primeira lição por vários dias. Todos copiavam meticulosamente, enchendo linhas e linhas das páginas de “pata - pa” “nada - na”. Chamava um a um na lousa para conferir se sabíamos de fato grudar uma sílaba na outra e assim surgir palavras que viravam desenhos em nossas cabeças: “ne-nê” , “pa-pai”. Muitos sofriam muito como isso. Empacavam. Mais que cansado de tanto escrever “pas” e “nas”, minúsculos e maiúsculos, resolvi fazer uso dos apetrechos ainda intactos: com a primeira lição aberta sobre a mesa da sala fiz misérias com os lápis de cor: pintei o céu de azul claro, fiz um sol amarelo que não tinha, pintei a taboa de verde e marrom, dei vida a água em tons de azul, claro e escuro misturados. E pintei a pata da cor do sol inventado. Enfim ficara com minha cartilha em cinemascope e tecnicolor. Depois do visto com lápis vermelho nas duas páginas do caderno de casa com tarefa impecável, exibi sem falar e orgulhosamente minha façanha extra de aventureiro da escola: compenetrado falsamente no desenho minucioso da envergadura de cada letra no caderno de classe deixei a minha obra prima exposta em cima da carteira. As cores gritavam na minha alma. Levei a maior bronca do mundo. Certa de cumprir seu dever absoluto, Dona Susana ordenou resoluta: tinha de apagar tudo. Tudinho. Usei a borracha e também um naco do miolo do pão com ovo batido que dormia na bolsa. Pior foi que nada disso dava conta de resolver a limpeza. Um rasgo feito relâmpago imenso atravessou a página em recuperação. Chorei baixinho e pequeninas lágrimas viravam água de verdade para a pata nadar numa nascente sem pecado. Não sei se a minha professora se arrependeu, mas o jeito que ela arrumou para acabar com aquela história foi colocar duas imensas tiras de esparadrapo na ferida aberta da primeira lição novinha em folha. Como se não bastasse, naquele dia sofri mais uma vez por conta da cartilha. Uma menina loirinha e franzina, a Mariinha, chamada à lousa, não sabia ainda distinguir um “pa” de um “na”. Ficou em pé por um bom tempo tremendo mansinho e com o rosto se emporcalhando do branco do giz de tanto passar a mão tremida para espantar o ruim de ficar ali esperando as letras lhe dizerem o mistério que a professora tanto queria. Era um espectro embalsamado quando outro fio de água se inaugurava e escorria pelas pernas de Mariinha encharcando seus pés e desaparecendo no primeiro vão do assoalho. Era um náufrago. Resolvi que a minha aventura na escola havia chegado ao fim. Era hora de partir para outra e sair daquele início, com cartilha machucada. Não queria sentir pena e raiva ao mesmo tempo. Era melhor ficar em casa, brincar no quintal com o Duque e na varanda com Mandrake, o periquito. Sem hesitar, compenetrado e silencioso, fui colocando um a um os meus pertences escolares na bolsa, inclusive a cartilha com curativo. Levantei-me sem pedir a licença obrigatória e fui embora. Só fechei os olhos ao passar naquela sala escura, com medo maior e com cheiro bem mais forte. Tive de pular o muro por conta do portão fechado, mas isso era coisa que bem sabia fazer. Mal sabia que naquele ano muita coisa ainda iria acontecer: receberia meu primeiro livro, aprenderia a declamar versos com gestos de artista em meio a palavras quase que estrangeiras, esperaria as surpresas das gravuras saídas de um armário proibido para imaginar histórias, aprenderia um latim sem decifrar, só para responder ao padre na hora das missas dominicais. E no depois, quem diria que ainda seria professor e iria escrever e desenhar em livros de verdade!