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terça-feira, 7 de setembro de 2010

LINGUAGEM , PENSAMENTO E GENERO TEXTUAL

Autora: Heloisa Amaral


I - Pensamento, linguagem e ensino

Vygotsky, pensador russo do início do século XX, ensina-nos que pensamento e linguagem estão associados de maneira indissolúvel. Os instrumentos lingüísticos do pensamento, para esse autor, quando associados à experiência sociocultural, determinam o desenvolvimento do próprio pensamento, o caminho que esse desenvolvimento tomará.


Assim, o pensamento e a linguagem estão sempre associados. Pensamos por meio das linguagens e com elas concretizamos nossos pensamentos. Como se pode comprovar por nossa própria vivência em inúmeras situações de comunicação ao longo do tempo em que existimos, todas as linguagens se materializam em textos, sejam esses textos artigos de opinião, falas numa peça de teatro, fórmulas matemáticas ou químicas, quadros ou fotos, poemas, notações musicais para uma canção, anúncios, placas de trânsito ou outra forma qualquer de expressão do pensamento.


Ainda retomando as lições de Vygotsky, podemos dizer que sempre aprendemos socialmente, nunca individualmente. A aprendizagem se dá nas interações sociais. Primeiro somos capazes de aprender nas inter-ações, nas ações entre as pessoas, para depois internalizarmos essa aprendizagem, produzindo conhecimentos pessoais. É nas interações sociais que nos apropriamos do conhecimento já produzido e depois o internalizamos. Depois do conhecimento internalizado, podemos criar outros conhecimentos, conhecimentos pessoais. A criação e a autoria, portanto, antes de serem individuais, são sociais.


Esse modo de ver a aprendizagem coloca a escola e o professor em lugares muito especiais. O professor é um mediador entre o conhecimento já produzido e o conhecimento que seu aluno vai construir. Outros mediadores são os colegas. Nas interações que se dão na escola, com os colegas e especialmente com o professor, os alunos desenvolvem experiências socioculturais inestimáveis, que desenvolvem seu pensamento e, é claro, sua linguagem.


II – Pensamento, gêneros textuais e aprendizagem


Nos últimos anos, a expressão “gêneros de texto” tornou-se comum, mas poucas vezes paramos para pensar no que ela significa. Como a palavra "gênero" significa "família, grupo", podemos dizer que gêneros textuais são “famílias”, grupos de textos que têm origens semelhantes, ou seja, nascem em situações de comunicação que ocorrem em uma mesma área de produção de linguagem.


Quando se produz qualquer tipo de conhecimento, como o conhecimento médico, o jurídico, ou a tecnologia de fazer sapatos, por exemplo, ou ainda a cultura familiar que é transmitida durante gerações, ao mesmo tempo são produzidas linguagens próprias desses campos de conhecimento. Os campos de conhecimento, como dizia Bakhtin, outro pensador russo do século XX, são tão numerosos como as atividades humanas. É possível dizer que seu número é infinito, porque a todo o instante surgem novos tipos de atividade e, portanto, novas linguagens. Um exemplo próximo de nós é a linguagem que nasceu e se constituiu junto com os computadores e a Internet.


Seguindo essa linha de raciocínio, podemos afirmar que as linguagens próprias dos diferentes campos de conhecimento (ou esferas de atividade humana, nas palavras de Bakhtin) são os gêneros textuais ou gêneros de texto. Encarar língua e linguagem dessa perspectiva muda radicalmente o que pensamos sobre seu ensino. Em vez de práticas de memorização,treinamento motor e uso do texto como pretexto para ensinar gramática, precisamos fazer compreender a situação de produção dessas linguagens na sociedade e as particularidades que os textos adquirem por estarem ligados às diferentes áreas de produção de conhecimento.


A escola é uma área de atividade humana e, naturalmente, produz gêneros textuais próprios. Ao ouvirmos a palavra "prova", que é um gênero tipicamente escolar, além de sabermos como é o tipo de composição que ela usualmente tem (enunciados e espaços para respostas ou testes de múltipla escolha, ou problemas etc.), sentimos a situação de avaliação em que ela é produzida. Como vivemos muitas vezes essa situação escolar, podemos evocar, além da forma do texto da prova, a ansiedade produzida pelo pedaço de papel posto à nossa frente na carteira, esperando para ser preenchido. Nada contra as provas, naturalmente. Elas são experiências socioculturais como muitas outras que nos ajudam a superar obstáculos, a crescer, a desenvolver o pensamento. Elas estão citadas aqui como exemplo de gênero de texto que traz as marcas da situação de comunicação em que foi produzido.


O exemplo da prova demonstra como todos os gêneros de texto nascem e circulam socialmente, inclusive os escolares. Todos os gêneros de texto são concretos e reais, até mesmo os escolares. Não há texto que não seja um diálogo entre pessoas concretas e reais, porque todos são produzidos em situações de comunicação concreta, em diálogos que envolvem interlocutores presentes ou distantes, mas interlocutores. Há alguém mais concreto para os alunos que seu professor? Há alguém mais concreto para o professor que seus alunos?


Assim, podemos dizer que as inúmeras e sempre diferentes situações de comunicação nas quais nos encontramos durante todos os momentos de nossa existência exigem gêneros próprios para ocorrer. Sabemos, de um modo geral, qual o gênero apropriado para cada situação de comunicação porque os gêneros são linguagens carregadas de marcas da situação em que são produzidos e, de alguma maneira, se repetem: marcas gráficas, lingüísticas e também as que não estão no papel, mas que reconhecemos quando temos experiências socioculturais com essas linguagens. Alguns desses gêneros são aprendidos mais ou menos espontaneamente. Outros exigem estudos mais profundos. Podemos ensiná-los a nossos alunos, desde que tenhamos conhecimentos sobre eles. Um bom modo de fazer com que os alunos aprendam diferentes gêneros textuais é planejar seqüências didáticas para seu ensino.

Referências bibliográficas:

BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

VÁRIAS PERGUNTAS, UMA SÓ RESPOSTA

Várias perguntas, uma só resposta!


Prof. Chafic Jbeili – www.unicead.com.br



A semana que passou foi marcada por muitas perguntas que fiz a mim mesmo e às outras pessoas que estavam por perto. Lembrei-me de minha infância, no período dos três aos sete anos mais ou menos, época do desenvolvimento infantil também muito conhecida como “fase dos porquês”. A propaganda já dizia: “não são as perguntas que movem o mundo e sim as respostas”. Estive a buscá-las!






Queria saber por que várias casas de trabalhadores estavam sendo derrubadas, enquanto casa de traficante só cai na gíria, pois em minha opinião casa de criminoso, quando devidamente julgado e sentenciado como tal, deveria ser confiscada pelo Estado, leiloada e revertida em moradia para famílias trabalhadoras. Resposta? Estupidez das leis!






Queria saber por que uma criança de oito anos traz para casa um dever de matemática solicitando que pinte seis bolinhas vermelhas e cinco azuis e coloque o resultado, enquanto o dever de português solicita que esta mesma criança interprete um texto de uma página e faça uma “resenha” daquilo que entendeu do que leu. A de matemática a subestima, enquanto a de português a superestima. Resposta? Estupidez dos métodos!






Queria saber por que o processo licitatório para capacitação de professores nos municípios é tão exigente e exacerbadamente descabido na lista de documentações, certidões e comprovações solicitadas, chegando a inviabilizar projetos de apenas quatro mil reais para um seminário completo sobre Educação Inclusiva com material e palestrantes vindo de três estados, enquanto para a liberação das verbas indenizatórias de autoridades públicas exige apenas apresentação de Cupom Fiscal e uma única assinatura para pagar dezenas de milhares de reais com gastos de uso pessoal em serviço. Resposta? Estupidez dos processos!






Queria saber por que ainda há professor chamando aluno de burro; por que há policial a vender armas para bandidos; por que há médico a fazer abortos clandestinos; por que há dono de farmácia a comercializar Citotec sem receita; por que há algum acadêmico de psicologia considerando-se herdeiro direto, único e exclusivo de fato e de direito sobre toda ciência, técnica, estudo ou qualquer outra coisa que inicia ou venha a iniciar com o prefixo psi como se a psicologia fosse completamente autônoma e independente das demais ciências; ou por que, por exemplo, para que servem todos os testes, provas e exames do Detran se ainda é necessário construir quebra-molas nas ruas? Por que os bancos protegem mais o dinheiro do que as pessoas? Resposta? Estupidez dos critérios!






Queria saber de que adianta votar neste ou naquele candidato se o voto é do partido e o partido destina o voto a quem quiser. Queria saber também em que horário os juristas escrevem tantos livros, enquanto milhares de processos se acumulam à espera de análise e deferimento? Estupidez da democracia e da gestão pública!






Queria saber por que quase a totalidade das leis produzidas pelo Poder Legislativo serve apenas para gerar gastos extras para o povo, a exemplo do caríssimo kit de primeiros socorros que não vingou, mas obrigou milhões de motoristas a comprá-lo; das ridículas e novas tomadas elétricas e agora a obrigatoriedade das cadeirinhas. Estupidez na legislação em causa própria!






Bem feito para o povo! Não fosse pela tácita estupidez humana não seria necessário manter três poderes com um bando de estúpidos corruptos governando, legislando e julgando outros tantos estúpidos em função do controle da estupidez do povo. Não fosse pela tácita estupidez humana não seria necessário o gasto anual de doze trilhões de dólares com armas e equipamentos de guerra, enquanto um terço da população mundial carece de pão e água. Igualmente, não seria necessário este singelo autor minutar sobre isso.






Como se vê, foram muitos porquês e não listei todos para não cansar os ilustres leitores, se é que já não o fiz, porém fica a reflexão sobre a possível existência de uma única e multifuncional resposta para todas essas perguntas: Estupidez!






Sim! Estupidez dos homens que fazem as estúpidas leis; dos que estupidamente as fazem vigorar; daqueles que as permitem serem impostas sem que sejam questionadas ou impedidas de vigorar; daqueles que desprovidos de bom senso as executam; e daqueles que ignoram aquelas que não são estúpidas, justificados naquelas que são!






Como bem disse o escritor luso, Camilo Ferreira, “Os estúpidos guerreiam barbaramente o talento, são os vândalos do mundo espiritual”, abonando a visão que Arnaldo Jabor sintetizou sobre nosso país em crônica recente: “O Brasil está tonto, perdido entre tecnologias novas cercadas de miséria e estupidez por todos os lados”.






Estupidez foi, sem dúvida, a única resposta que encontrei e que impecavelmente pontuou todas as minhas questões, tornando-se nessa semana a resposta universal mais aplicável para todas as minhas perguntas.






Experimente usar a palavra estupidez como resposta a algumas de suas perguntas, ela pode explicar quase tudo que eventualmente não tiver melhor réplica!