Inclusão à passarinho
Prof. Chafic Jbeili – www.unicead.com.br
Estive participando do 7º (re)encontro catarinense de psicopedagogia, realizado em alto estilo na capital Florianópolis entre os dias 12 e 13 de novembro de 2010 com o tema: A Psicopedagogia: Limites e Possibilidades. O momento não poderia ser mais oportuno: Aconteceu no dia do Psicopedagogo (12) e exatamente quando o "Núcleo" recebe juridica e legalmente o título de "Associação" ampliando sua representatividade da classe naquela jurisdição.
O evento que está em sua sétima e bem sucedida edição foi promovido pela Associação Brasileira de Psicopedagogia, Seção Santa Catarina, sob a presidência da Pp Albertina Chreim, cuja atuação naquele Estado me impactou, causando a mais oportuna e grata satisfação ao ouvir seus relatos sobre os grandes feitos e o espaço conquistado por nossas bravas colegas psicopedagogas que deram um show de presença, organização e esmero profissional agregando ainda mais valor à categoria. Parabéns!
Registro aqui meus agradecimentos àquela diretoria pelo convite para participar do evento com duas palestras: uma sobre leitura do desenho infantil e outra sobre a Síndrome de Burnout em Professores. Ficará em minha lembrança a garra e a persistência daquelas mulheres educadoras, altamente capacitadas e que tão bem representam a Psicopedagogia no Brasil, causando encantamento inclusive a profissionais presentes de outras áreas como medicina, fonoaudiologia, psicanálise com os quais tive o privilégio ouvir elogios e palavras de incentivo à importância da psicopedagogia no contexto multidisciplinar. Foi muito gratificante!
De volta para casa, já no aeroporto de Florianópolis e ainda em estado de êxtase pelo impacto do evento; enquanto aguardava chamada para embarque, com o olhar e pensamentos além dalí, bem à minha frente assustei com o pouso frenético, barulhento e repentino de três pardais sobre umas migalhas de sanduíche que estavam no chão, interrompendo abruptamente meu devaneio. Que badernistas estes pardais, pensei...
Ainda surpreso, reparei que um dos três pardais tinha dois dos dedos de sua patinha direita integrados, como se estivessem colados. Além disso, sua perna era torta como se tivesse calcificado fora do lugar depois de uma possível fratura. Este passarinho mancava e se deslocava com sacrifício ao dar aqueles pulinhos característicos dos pássaros quando andam em terra, mas em compensação os dois outros pardais buscavam as migalhas mais distantes e lançavam discretamente para próximo do pardal deficiente.
Continuei olhando e percebi que os pardais aparentemente sem deficiência serviam parcialmente o amigo especial e tomavam o cuidado para não deixar a comida nem longe demais para que ele tivesse que se esforçar muito e nem próximo demais para que ele não se sentisse incapaz de buscar seu próprio alimento. Pareciam conhecer alguns princípios psicopedagógicos!
Eu vi ética, respeito, serviço, afeto, zelo, espírito de corpo, trabalho em equipe, solidariedade e até nobreza nos gestos daqueles pardais em relação ao seu amigo deficiente. Até então eu sabia que pardais são bastante populares e em muitos lugares são considerados como pássaros “vira-latas”, analogamente aos cães sem raça definida, cuja espécie não exige maiores cuidados e se alimentam de quase tudo que encontram à sua frente, inclusive lixo, excluindo-os de especial distinção no processo de taxonomia, mas não como seres vivos merecedores de nossos cuidados, atenção e preservação.
Vivenciar nobreza de atitude, ética, respeito, afeto e maestria no trabalho de equipe no meio dos colegas psicopedagogos e demais profissionais participantes do 7º encontro catarinense de psicopedagogia foi algo fácil para mim porque essas virtudes estavam nítidas em tudo o que eles fizeram e falaram no encontro, porque no dia a dia eles são assim mesmos e viver isto com eles foi fantástico, revigorante! Surpresa de verdade foi quando essas nobres virtudes surgiram em outro contexto que não era o foco daquela viagem nem de meus pensamentos. Mesmo muito bem abastecido e sem eu procurar, apareceu também onde eu menos esperava encontrar: num trio de pardais!
A nobreza de atitude no meio de pássaros considerados não-nobres foi algo literalmente extraordinário para mim. Uma nova experiência e prova real de que se os pássaros podem fazer o que homens e mulheres de bem já fazem naturalmente, por que não esperar que a qualquer momento, pela graça de Deus e insistente dedicação de bravos educadores, quem sabe algumas pessoas de atitudes atualmente “sem nobreza” aflorem de repente e para sempre o que há de melhor dentro de si e nos surpreendam a todos ao praticarem algo similar ao exemplo de educadores que tenho tido o privilégio estar junto e ter notícias de seus feitos ou, pelo menos, algo parecido com aquela inclusão à passarinho que inesperada e abruptamente presenciei no aeroporto de Florianópolis?
Busquemos a Deus em primeiro lugar e alegremo-nos no exemplo dos psicopedagogos e pardais deste texto!
Um comentário:
Olá Milts
Este seu texto é mesmo reflexivo e encantador.
O que mais me incomoda neste assunto tão pertinente e que incomoda a muitos educadores - INCLUSÃO - é o que JESUS CRISTO pregou e fez durante toda sua caminhada aqui na terra, e acredito que nós enquanto Educadores temos uma árdua jornada em se tratando de inclusão de pessoas com deficiência nas escolas e consequentemente na sociedade.
Abraços e continue nesta luta!
Clair L Debroi
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